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ARTIGOS DE ERNANDE ARCANJO

É possível outra sociedade?


Ernande Arcanjo


O artigo intui refletir acerca de duas visões antagônicas sobre a sociedade a partir dos explorados e aponta pistas de construção para um tempo insento da barbárie do capitalismo o qual aparece no imaginário humano como imprescindível, imbatível e eterno. Contudo, atentar a desconstrução dessa ideologia é um passo significante rumo ao que podemos chamar de um "outro mundo possível". A pergunta pano de fundo que norteará o texto é: é possível mudarmos a sociedade na qual estamos inseridos para uma melhor?
Na filosofia política, Tomás Hobbes ,um empirista, dizia que o "homem é lobo do homem". Tal pensamento defende que o ser humano em sua essência é egoísta e agressivo. Portanto, o mercado competitivo é a melhor forma progressista de trabalhar essas características. Nesta lógica, o capitalismo é o sistema mais adequado á sociedade.
Diferente pensava Rousseau, quando apresentava o homem como fruto do meio. Para ele, nascemos insetos de maldade, mas é no processo de assimilação cultural que vamos adquirindo características "ruins".
Duas visões divergentes que guardam amplos interesses, permanecem nos debates ideológicos contemporâneos e nas estratégias políticas. Portanto, permeiam e projetam o caminho que a humanidade percorre. Por isto, convém refletirmos elas, uma vez que todos nós estamos inseridos neste caminho. Vejamos: A primeira convém aos que se mantém no poder; aos que exploram; a burguesia; todos os que buscam sustentar a status quo. Na ótica maxisista estes são os conservadores.
Já a linha que defendem que as pessoas são frutos do processo social compreende como uma postura revolucionária, porque aposta na mudança. Para estes, o capitalismo não é o fim da história. Assim como pode existir este sistema cruel, também, é possível a construção de outro modelo de sociedade.
O fato de a grande massa aceitar o capitalismo como o melhor sistema, decorre do que Max chama de alienação. Embora, o povo seja explorado, não consegue ver de quem é a culpa, fazendo assim, perpetuar as disparidades sociais, onde, por um lado, um pequeno grupo de privilegiados detém quase toda a riqueza, enquanto a maioria vive ma miséria. Portanto, fica evidente que a melhor linha ideológica a nortear o caminho da humanidade é que nos faz acreditar que podemos reverter este quadro.
Acontece que um dos maiores entraves a ser rompido é a desconstrução das ideias introjetadas na mente das massas empobrecidas. Acreditar que quanto mais se trabalha se chega à riqueza (trabalho em seu sentido de exploração); que, a pobreza na qual se vive é uma sina, não pode ser mudado; é preciso que haja pobres e ricos, o mundo é assim mesmo por alguma razão, Deus quer assim. E mais: As pessoas mais vitimizadas são levadas a acreditar que são culpadas pela sociedade tal como se encontra. Quem é taxado de perverso, perigoso, delinquente deve ser banido da sociedade porque nasceu para serem assim.
Os movimentos de resistência tem sempre se assegurados frente à força avassaladora do capitalismo, porque alimentam-se pelas ideias de que é possível mudar este mundo. E será na contínua luta, na organização do proletariado, na tomada de consciência das massas, dentro de um processo contínuo, no trabalho solidário acontecendo nas bases. Certamente, chegará um tempo em que nenhum império, sistema atroz, poder opressor ficará de pé, porque o povo terá vencido. Este é o tipo de revolução que esperamos, este é o ideal que devemos apostar o de que é possível construir uma sociedade realmente justa, solidária e pacífica.
Fonte:http://escolabiblicasamaritana.blogspot.com.br/

O caminho de nossos pais e o nosso caminho hoje.

                                                 Ernande Arcanjo

Há uma grande preocupação dos exegetas bíblicos em relação à reconstrução da história das madriarcas e patriarcas, principalmente após a ¹década de 70. Sabe-se hoje por consenso que, tal como se encontra na Bíblia, a história deles não foi linear. É bem provável que, Por exemplo, Abraão, Isaac e Jacó não eram ²biologicamente da mesma família, o que os uniam eram a experiência de fé. Ainda vale resaltar que os seminômades como são assim chamados, a princípio tinham seus deuses e deusas. Yahweh era um Deus dentre outros, tendo inclusive a deusa Asherah, ao seu lado, a qual foi apagada na história devido o predomínio patrarcal³.
Minha reflexão, contudo, não é exegética (não tenho gabarito para isto), mas refletir a experiência de fé de nossos pais e mães com um olhar voltado para nossos tempos, onde muitos sofridos ainda penduram na história em busca da "terra prometida". São os muitos Abraãos, saras, e rebecas vivendo as margens dos latifúndios modernos: negros, índios, moradores de rua etc. Portando não basta só buscar saber como foi à história dos precursores de nossa fé, mas, como podemos experimentar, inspirados neles/as, uma fé profunda a partir de nossa realidade.
Alguém questionou no segundo encontro da Escola Bíblica Samaritana (Cebi), cadê, a terra prometida? Lembrei, então, de uma palavra interessante: utopia! Cujo sentido move a luta de tantas pessoas por um mundo melhor. Esta palavra é que, por exemplo, impulsiona a luta do MST pela divisão justa da ; esta palavra é que dá vigor a entidades que defendem os diretos dos trabalhadores, dos grupos defensores do meio-ambiente e muitos outros.
Uma observação interessante: Essa luta não é individualista, mas sempre coletiva, assim como na história das matriarcas e patriarcas, onde buscavam uma vida melhor para todos. Eram também pobres e oprimidos, embora os escritos bíblicos, feitos depois, dê acréscimo econômico a eles, talvez como símbolo de benção, ou com um intuito monárquico. "Foi de um grupo de pobres pequenos criadores de ovelhas e lavradores que nasceu o Povo de Deus" (Marcelo de Barros).
Contudo, o que eles tinham de mais peculiar era a relação intima e profunda com as divindades (depois convertida no monoteísmo). O Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o mesmo de nossas mães, era o Deus mantenedor da vida. Diz Sandro Galazzi: "O lugar da vida é o lugar da árvore. Este é o lugar do Deus de Abraão, onde há uma grande árvore, há água, há pasto. E onde há pasto há vida para o seu pastor e rebanho". E sobre Isaac, emfatiza Galazzi: "Trata de outra situação histórica. O lugar onde Isaac bendiz a Deus, já não é a arvore grande. O lugar de Deus para Isaac é o poço".
Estas famílias resistiam aos grandes latifúndios, aos deuses que legitimavam a opressão dos reis. Hoje, a luta continua sustentada naqueles que defendem a vida ameaça, especialmente naqueles que carrega um Deus da vida. Bem nos narra Carlos Mesters:
"Abraão é todo aquele que, em nome de sua fé em Deus e por causa do seu á amor a vida, se levanta contra toda uma situação de injustiça e de maldição, criada pelos homens, e que, para mudar essa situação, está disposto a abandonar tudo, a trocar o certo pelo incerto, o seguro pelo inseguro, o conhecido pelo desconhecido, o presente pelo futuro".

Não teria palavras melhores para concluir esta pequena reflexão.

Referências
01. AUTH, Romi et al. (org). O povo da Bíblia narra suas origens SAB. Belo Monte: Paulinas, 2001
02. JOSÉ, Airton. A História de Israel no debate atual. Disponível em: . Acesso em 10 mai. 2012.
03. CORDEIRO, Ana Luiza Alves. Asherah, a deusa proibida. Disponível em:< http://www.abiblia.org/artigosview.asp?id=80>. Acesso em: 10 mai. 2012.
04. SOUSA, Marcelo de Barros. A Bíblia e a luta pela terra. Petrópolis: Vozes, 1983.
05. GALAZZI, Sandro. Por uma terra sem mar, sem templo, sem lágrimas. Petrópolis: Vozes, 1989.
06. MESTERS, Carlos. Abraão e Sara. Petropolis:Vozes, 1989



Fonte:http://escolabiblicasamaritana.blogspot.com.br/

Reinterpretando os sonhos de José

                                                     Ernande Arcanjo

Descortinar a metáfora de José do Egito implica, antes, o rompimento de uma ótica ingênua impregnada em nossas cabeças por uma formação domesticadora. Portanto, a hermenêutica aqui desenvolvida parte de uma reflexão crítica, propondo furar o véu das palavras e apresentar a relação dominado/dominador implícita nos sonhos de José.
Não nos interessa saber se José era bom ou mal, vítima ou culpado, mas sim apresentar a mensagem escondida atrás de uma história doce e bem elabora capaz de nós encher de emoções. Contudo, deter-me-ei nos sonhos do protagonista trazendo uma reflexão conforme o chão que hoje pisamos.
Os sonhos que o capitalismo nos oferece são os sonhos do progresso, onde o pobre poderá ser rico. Sabemos que esta não é a verdade, porque há um concentração de renda nas mãos de quem quer cada vez mais.
Encontramos a História em Gênesis do capitulo 37 ao 50. Ela faz uma ponte do Livro de Gênesis com Êxodo. José apresenta-se como filho mais quisto pelo seu pai Jacó. Os irmãos o venderam não por ser o mais querido pelo pai, e sim pelo sonho que teve. A primeira ideia quer mostrar é a lógica do poder-dominação. Bem questiona Valmor, mestre em exegese bíblica "Quando José sonha que os feixes de seus irmãos estão se inclinando para o dele(Gn37,5-11), não está querendo ser rei e dominá-los? E quando os irmão planejam matá-lo, não estão dizendo que as tribos rejeitam radicalmente o sistema monárquico?". A experiência de opressão imposta pelos reis não era nada agradável.
Os dois próximos sonhos que José tem no decorrer do seu caminho mostra os abusos dos mantenedores do poder dominação. O rei decide quem morre e quem continua a viver, como um deus. Este mesmo faraó é quem engrandece José. Mas é o Deus da vida, o Deus da tenda, do poço, o Deus do caminho que dá a vida e liberta, ele não apenas faz caridade. Ele rejeita radicalmente estes tipos de sonhos.
O sonho do faraó que leva o progresso de José é o do acumulo. Os sete anos de fartura e os sete da penúria tem o engrandecimento do poder faraônico. Pode até parecer que Deus aprova esta estrutura injusta, contenta-se tão somente colocando um caridoso no poder para ajudar os necessitados. A questão vai além... A divisão de bens é o plano do Deus libertador. Para isto é preciso à construção de um modelo de sociedade justa e solidária, contrário à lógica do capitalismo, o qual através neoliberalismo, propaga os sonhos do desenvolvimento econômico através dos esforços individuais e da competitividade. A história mostrou que quem acumula muito, cada vez mais quer acumular, enquanto outros nada têm.
É importante ressaltar que alguns estudiosos bíblicos defendem que a história de José foi escrita no período salomônico a fim de legitimar, ainda mais, o seu poder monárquico diante do povo.
Outro foco é o período contado pela história num contexto onde as cidades-estados oprimiam os camponeses. Vendo deste ponto de vista, não foi a toa que José foi rejeitado pelos irmãos, uma vez que interpretaram querer ele ser o rei. Ainda ressalta Valmor "A transferência de Jacó e de seus filhos para o Egito(Gn 45), talvez representa a passagem das tribos de Israel para o sistema tributário. Que retrocesso". Esta não é a promessa feita as matriarcas e patriarcas. É algo muito maior.
Valmor da Silva. Deus Ouve O clamor do povo - Teologia do Êxodo. Paulinas
Tradução Bíblia Pastoral - Paulus

Fonte:http://escolabiblicasamaritana.blogspot.com.br/

Deus da vida versus deuses da morte

                                                Ernande Arcanjo

Na experiência exodal apresentam-se dois projetos antagônicos: O faraônico e o hebraico os quais acirram um embate que explicita a força do Deus da vida sobre os deuses da morte. Tal luta acontece articulada pelos dois lados tendo como pano de fundo o contexto político-econômico da época. Assim, alguns elementos são imprescindíveis para a resistência hoje frente aos novos impérios faraônicos. Podemos chamar estes de nações desenvolvidas que, a custa da exploração de outras, buscam manter um padrão vida extravagante (balancin).
A libertação tal como é narrada no livro do êxodo não decorre de um ponto estanque e casual e não pára em um momento programado, mas é processo continuado na luta de todos os descontentes com as injustiças em todas as épocas.
Uma observação fundamental é que o projeto do êxodo interpela-nos a tomar uma decisão radical: Ficar do lado da vida ou da morte, do oprimido ou do opressor. Não existe neutralidade, nem meio-termo. Todavia, ficar do lado do Deus da vida é exigido desafiar, se necessário, até a morte, os deuses da opressão, indo contra todos os esquemas de injustiça. Assim, vemos nos relatos da Bíblia no tocante ao povo escravo no Egito.
A libertação inicia com a ousadia e astucia da mulher. O ser feminino visto como o mais fraco, que serve apenas para trabalhar e procriar. Acreditavam que a mulher era apenas depositária da vida advinda do homem. Muito tempo depois é que vem a descoberta do óvulo feminino. Eis o que diz Tea Frigerio (2005, p. 45):
"O Faraó, o potente, o Sábio nem percebe ao ser iludibriado, enganado. Acredita na palavra das parteiras, nem faz represália contra elas. Meninas que nem merecem ser contempladas nas sábias medidas, que escapam da morte por não valer. Não suscitam suspeita, não são consideradas capazes de pensar, de programar, de resistir, mulheres, ventres de aluguel, não pensam, não tem cérebro.. o poder da via vida das mulheres é maior que a razão de estado. Ele considera-se esperto, sábio, mas é vencido pela verdadeira esperteza, pela verdadeira sabedoria: a das mulheres".
Outro elemento significativo no processo de libertação é o enfretamento ideológico no que compete as nossa mentalidades nas quais foram introjetadas verdades e medos capazes de estagnar nossos passos ruma a libertação. Não possível acontecer uma libertação integral sem desconstruir os deuses faraônicos dentro de nós.
Orofino (2004, p. 12) apontou cinco obstáculos na caminhada do êxodo: o imediatismo, as murmurações, a dúvida, o acúmulo e a centralização. Tais possibilitam que a sociedade faraônica seja continuamente reproduzida.
Uma música do cantor popular e nordestino Zé Vicente cabe bem nesta reflexão.
De repente nossa vista clareou! Clareou! Clareou! E descobrimos que o pobre tem valor. Tem valor! Tem valor!
1. Nós descobrimos o valor da união, que é arma poderosa, e derruba até dragão. E já sabemos que a riqueza do patrão, e o poder dos governantes, passa pela nossa mão.
2. Nós descobrimos que a seca no Nordeste, que a fome e que a peste, não é culpa de Deus Pai, a grande culpa é de quem manda no país, fazendo o povo infeliz, deste jeito é que não vai.
3. O que nós vemos é deputado e senador, militar e jogador, recebendo milhões. Enquanto isso o povo trabalhador, derramando seu suor, tem que viver de tostões.
01. Balancin, Euclides. Como ler o livro do êxodo. São Paulo: Pulus. 1991
02. Valmor da Silva. Deus Ouve O clamor do povo - Teologia do Êxodo. Paulinas
03. 11º Intereclesial das CEBs. CEBs: Espiritualidade libertadora - Seguir Jesus no compromisso com os excluídos. Texto-base. Secretaria Nacional
04. Curso de Verão na Terra do Sol. Êxodo - caminhos de liberdade 



Fonte:http://escolabiblicasamaritana.blogspot.com.br/


Sobre o autor
Ernande Arcanjo é estudante de Serviço Social(FATENE), assessor da Pastoral da Juventude do Ceará, voluntário no Trabalho em defesa da vida e participante de Escola Bíblica Samaritana-CEBI.